quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A Música e a criança

Deus criou todas as coisas para o louvor da Sua glória. A música foi criada por Deus. Antes da fundação do mundo, os anjos o louvavam; no nascimento de Jesus, anjos cantaram glória a Deus nas alturas. Somos criaturas de Deus para glorificar o seu nome.
A música pode trazer paz e alegria a um coração aflito. Músicas bem preparadas podem transmitir ânimo aos desanimados, alívio aos cansados.
Crianças que ainda não compreendem muito as coisas são sensíveis à música como um agente que mexe com sua atenção e emoções. Podemos nos lembrar mais facilmente de uma música aprendida na infância do que de palavras ditas em meio a uma pregação. Músicas aprendidas pela criança a ajudam a formar uma memória emocional com boas lembranças de sensações agradáveis. Se considerarmos, então, a música como agente espiritual, teremos a certeza da ação do Espírito Santo em meio às canções ouvidas e aprendidas.
Muitas coisas que são semeadas na vida de uma criança só mostrarão seus frutos bem mais adiante. E quando a pessoa, anos mais tarde, quiser trazer à memória o que lhe pode dar esperança, poderá encontrar, entre suas lembranças, as músicas tão simples e verdadeiras que falaram ao seu coração de criança.

sábado, 21 de novembro de 2009

Sete flores



Floral

Cada pétala espera
O silêncio amanhecer.
Gota de orvalho, me diz:
Onde está meu bem-querer?





Noturna

A flor da noite me disse
Que a gota de orvalho vem,
Que o luar não adormece,
E a noite vela também.




Volta

A flor que o vento leva
Vai tão longe do jardim...
As ondas do tempo trazem
A flor de volta pra mim.





Silêncio

Eu vi no fundo do tempo
A flor que o vento buscou.
A noite guarda o silêncio,
Meu coração guarda a flor.





Outono

Folhas do meu outono
Têm gosto de solidão,
Têm um quê de abandono,
Amor deixado no chão.




Jardins

Andei por tantos jardins,
Veredas de tantas cores,
Que já não sei mais a cor
Da rosa dos meus amores.





Desenho

Eu desenhei o teu nome
Como se ele fosse a flor
Que nasceu só no caminho
Onde passou o meu amor.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A igreja tem que morrer

“E ele morreu por todos, para que aqueles que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu” (1 Coríntios 5:15).

A palavra de Deus nos exorta a discernir o corpo (1 Cor. 11:29). A igreja é o corpo de Cristo. É preciso que ela saiba discernir a si mesma como corpo de Cristo.
Como o apóstolo Paulo nos exorta, devemos pregar a Cristo, e este crucificado (Romanos 1:23). O intento do apóstolo não é nos estimular a uma repetição do sacrifício consumado, pois Cristo morreu uma vez só, levando sobre si os nossos pecados. Mas ele enfatiza a obra da cruz como o centro da pregação do Evangelho.
Paulo fez várias afirmações em suas epístolas a respeito da operação da morte e da vida: “estou crucificado com Cristo; já não sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim, e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus” (Gal. 2:20); “de sorte que em nós opera a morte, mas, em vós, a vida” (2 Cor. 4;12); “dia após dia morro” (1 Cor. 15:31). Será isto exclusividade do apóstolo Paulo? Não foi ele usado por Deus para despertar a igreja para morrer para o mundo?
Lutamos contra a carne, contra o nosso inimigo e contra o mundo. Como cristãos, reconhecemos a necessidade de um viver santo – separado para Deus – e não voltado para as coisas deste mundo, pois “se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João 2:15), e “a amizade do mundo é inimizade com Deus” (Tiago 4:4). Conseguimos enxergar isto no plano pessoal, individual – mas isto, infelizmente, não acontece com a igreja.
Cristo Jesus disse que, quando Ele fosse levantado, iria atrair todos a si mesmo (João 12:32). Na cruz, sim, mas não após a Sua morte, mas quando fosse levantado no madeiro – pronto para morrer e consumar a redenção. Seu sacrifício redentor se deu na plenitude dos tempos, no tempo exato do plano de Deus.
A palavra de Deus é cristocêntrica – aponta para a promessa, para a vinda e para o sacrifício e a ressurreição de Jesus, e anuncia a Sua volta. Sabemos que tudo convergiu para Cristo na cruz – e hoje a Sua morte continua sendo tanto o ponto final da condenação pelo pecado como o ponto de partida para a vida nova em Deus. O corpo de Cristo foi crucificado para que Ele levasse sobre si o pecado, morrendo em lugar dos pecadores. Paulo olha para a cruz e diz que precisa se conformar com a Sua morte, para de algum modo alcançar a ressurreição (Fil. 3:10, 11).Seria isto uma atitude mórbida da parte dele – procurar conhecer o poder da morte – ou um perfeito discernimento do corpo de Cristo?

Hoje celebramos a salvação e ouvimos alguns dizerem que devemos olhar para a cruz não como uma morte, mas como a nossa esperança. Mas não podemos fazer isto, pelo menos por dois motivos: o mais evidente é que a cruz é o lugar da morte sim, porque não há como olhar para a cruz e não se lembrar da morte de Cristo, mas Ele ressuscitou, e nos alegramos com a Sua ressurreição ao lembrar que a cruz está vazia, e que Ele não permaneceu na morte. O outro motivo é que a cruz não pode ser a nossa esperança porque ela é o sinal da própria concretização da esperança – a promessa se cumpriu: o Salvador veio, morreu na cruz, e está consumado.
A igreja não deixa de olhar para a cruz, mas não vê nela o que precisa ver. Olhamos para o sacrifício de Jesus como sofrido em nosso lugar: o preço foi pago e nada mais há a fazer para a salvação – e isto é verdade. Mas a cruz de Cristo não é só dele, é nossa também. “Fomos sepultados na sua morte pelo batismo” (Rom. 6:4) - o que simboliza o nosso comprometimento com o morrer para o mundo e viver para Cristo, como um novo homem.
Muitos de nós podem ver a si mesmos como crucificados com Cristo, reconhecendo que é necessário e urgente passar pela cruz para se conformar com a Sua morte, Para ressuscitarmos com Cristo, precisamos morrer, e morrer para o mundo. No entanto, enquanto alguns conseguem contemplar a cruz de Cristo como lugar da sua própria morte, atraídos por Cristo Jesus à Sua cruz, a igreja olha para a cruz e não consegue discernir na cruz a si mesma como o corpo de Cristo que morreu – porque, como foi Cristo quem morreu, e isto é suficiente, a igreja não precisa mais morrer. Mas isto é loucura na pregação, e não a loucura da pregação que salva. Podemos ver hoje a igreja como é descrita em Efésios 1:23?
Hoje corremos o risco de celebrar a ressurreição de um corpo – a igreja – que não morreu. A igreja diz ter vida em Cristo, mas ama as coisas deste mundo. Ou será que morrer para o mundo e viver em Cristo é privilégio de alguns? Fomos chamados para fora para ainda escolhermos se vamos viver em Cristo ou não? A igreja hoje proclama e promete o céu, mas retém o seu tesouro e o seu coração no mundo.
É urgente que a igreja olhe para a cruz e veja a si mesma crucificada com Cristo. Que ressurreição a igreja pode querer provar, se não reconhece a si mesma como morta para o pecado?
Fala-se muito nestes tempos de unidade na diversidade, unidade nas realizações, unidade no propósito comum de propagar o Evangelho. Há vários tipos de unidade sendo propostos à igreja e pelas igrejas hoje – afinal, é preciso que sejamos um para que o mundo creia (João 17:21). A igreja também reconhece que precisamos ser um em Cristo - e então isto parece suficiente, mas não é.
Nenhum destes planos aponta para a unidade da igreja na cruz. Jesus nos atraiu a Si mesmo como igreja que somos, como um só corpo, crucificado com Cristo, que precisa morrer para este mundo, deixar de viver para si mesma e viver em unidade para Aquele que por ela morreu e ressuscitou.
“Igreja, nega-te a ti mesma, toma a tua cruz e segue-me”. Somos capazes de negarmos a nós mesmos, tomarmos nossa cruz e seguirmos a Jesus individualmente, mas é difícil não ver que a igreja não se une para seguir a Cristo, está longe de conhecer a sua cruz e cada vez mais reafirma a si mesma como instituição que anda e vive neste mundo como se fosse dele. Está solidamente arraigada no mundo, e dele recebe a seiva para produzir frutos que chamem a atenção de todos para si mesma, e não para Deus.
O Israel de Deus tornou-se a vide luxuriante que segue sem pudor os seus amantes. Mamom é apenas um deles. Cada um de seus ramos constrói palácios – alguns são de luxo, outros de conhecimento, outros de poder – mas a glória não é de Deus: a glória é dada ao homem na pessoa da igreja.
Será ainda preciso chamar isso de prostituição? Porventura foi Cristo Jesus crucificado para que tivéssemos glória como Sua igreja? Há algo muito sério fora do lugar. Não consigo ver a igreja como participante da glória de Cristo, como se nela mesma houvesse glória, a não ser por dois motivos: os salvos terão corpos revestidos de glória, o que é mortal se revestirá da imortalidade e a igreja será o corpo de Cristo glorificado nos céus. O outro motivo é que já somos, e seremos tão pequenos diante da Sua glória, que dela participaremos como um salvo e bem-aventurado nada.
Se a vida da igreja está em Cristo Jesus, ela precisa passar pela cruz. Se a vida da igreja está em Cristo, é preciso que ela ande nele. A esperança da igreja é que somos semeados em fraqueza, mas ressuscitaremos em poder (1 Cor. 15:43).
A igreja não será vivificada se primeiro não morrer (1 Cor. 15:36). O grão morre como grão, e só terá novo corpo quando, após semeado, nascer de novo (1 Cor. 15:37). Ou a igreja morre para si mesma e para o pecado, e assume o seu lugar na cruz como corpo de Cristo, ou estará longe de se conformar com os Seus sofrimentos – o que não foi entregue somente a Paulo, mas a toda a igreja. Se alguém quer ter vida em Cristo, é preciso passar pela Sua morte – e a igreja não pode fugir disto.
Será que é somente a missionários que cabe como lema “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro”? No reino de Deus, a ordem das coisas é muito peculiar. Neste mundo é preciso estar vivo para se poder morrer, mas para nós, que não somos deste mundo, é preciso morrer para se ter vida.
Enquanto a igreja julgar que tem vida em si mesma, e se considerar a detentora – e não a servidora – dos propósitos de Cristo, continuará enganando a si mesma, servindo ao mundo e ensinando que a cruz é apenas um bonito símbolo da nossa fé.
Se a igreja achar a sua vida perdê-la-á; se a igreja perder a sua vida por causa de Jesus Cristo, achá-la-á. Encontrará a verdadeira vida em Cristo, e por fim a vida eterna.

(do livro 'Penso, logo escrevo', de crônicas evangélicas)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Coração de criança




Quando o coração é de criança,
toda roda viva é carrossel,
todo carrossel é colorido,
toda cor tem vida, tom, sentido.

Não importa o que eu quis dizer,
mas o que teu coração sentiu
ao mirar o esboço desta tela
que eu insisti em colorir.

Cada traço vai tocar mais fundo
a alma de quem procura e sonha
um lugar de paz, onde descansa:

toda cor tem vida, tom, sentido,
todo carrossel é colorido,
quando o coração é de criança.

Imagem: Casa nordestina, da Fundação Gol de Letra)

Uma profissão




Oh, queridos mestres, nem sempre o sentido das palavras consegue expressar as palavras dos sentidos, o que pulsa sem falar mas expressa mais que tudo que se quer dizer.
E, quando expressa, professa, claramente, e com veemência, o que é profundo e emerge, solene e incontida, como uma mensagem tão serena e tão marcante.
É preciso aprender a aprender. Um fala, o outro escuta, ambos pensam e interagem, num processo além do conhecimento que deságua na comunhão do que é compartilhado. E, ao compartilhar palavras e atitudes, não importa mais quem é o professor – ambos professam a comunhão do novo. Aprendendo a aprender, aprendem a ensinar um ao outro, e a declarar sem palavras que a semente da comunhão germinou e vai produzir seu fruto. Professor não apenas ensina, mas traz com ele aqueles que professam o que conheceram juntos.
Dizem que um profeta prediz o futuro – ele professa o que há de vir. Mas, se aquele que profetiza é aquele que exorta, consola e edifica, como está escrito em 1 Coríntios 14:3, é difícil imaginar alguém que exorta sem partilhar o dia a dia; alguém que consola sem se aproximar e conviver com o aflito; alguém que edifica sem tocar com as mãos o que é edificado.
E assim percebemos que profetizar não é apenas predizer, mas construir o futuro. Construir um futuro com as mãos cheias de trabalho, rodeado de gente que professa – declara publicamente o seu compromisso – o desejo de ajudar a construir um futuro que não é só de um, mas de todos.
Professor, profissão: profeta.