quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Insano




Por que falar de mim?
Quero falar de ti, e não consigo,
quero falar contigo, e não te ligo,
tento fugir de mim, e te persigo,
como se só em ti fosse encontrar
o que não vivo mais dentro de mim.
Fora de mim até me desconheço,
e te conheço tanto que bem sei
por que esperas de mim o meu silêncio
enquanto eu me angustio só por mim.
Por que, então, eu buscaria a ti,
se já te sei presente em todo o tempo?
Senão entre as lembranças, junto a mim,
percebo a atenção do teu olhar.
E então desfaço logo a minha cena,
desmancho o palco e as luzes do lamento,
recolho as vozes e a dor do sofrimento,
calo a revolta, e o murmúrio, e a agonia,
paro e espero inerte a tua voz.
Enquanto falo eu, tu dizes nós;
quando escondo o rosto, fazes luz.
Sabes que sou tão teu, mesmo rebelde,
Que o teu silêncio, assim, me mostra mais
Que tu somente esperas o instante
em que me falarás trazendo paz.
E eu, egoísta, que imaginava,
insano, que fosses tu o algoz,
vejo que já não passo de um fulano
que esqueceu do fio o começo,
que perdeu os sentidos e o apreço,
que desdenhou da própria vida o preço,
e que desconheceu o teu amor.
Mas, ainda assim, e mesmo assim, tu voltas:
sem mais qualquer razão, é tu quem buscas
na minha solidão, a companhia,
com tua comunhão, minha alegria,
pois somente de ouvir eu conhecia
que a tua graça é maior que o entendimento,
que o teu consolo é maior que a minha dor,
que eu não preciso mais do meu lamento,
e quero mais e mais do teu amor.
Quero falar de ti, buscar abrigo
na esperança que trouxe o perdão
a este insensível coração
que hoje conheceu Cristo Jesus.

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