terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Quarta-feira

Vem, manhã, clarão do dia,
Colorindo vida, despejando amor.
Máscaras sem cor, sem mágoa,
Recortam as ruas, não sei onde vou.

Mártires, anões, palhaços,
de diversos traços e uma só folia,
vou andando nos seus passos,
tropeço nos passos dessa fantasia.

Cada mão, uma esperança,
E um coração que dança, escondido e só,
Vêm, invadem esse palco –
Amor é confete que ficou no chão.

Vão, chocalham os seus guizos,
Seus risos não mentem, é uma só dor;
Máscaras despedaçadas,
Corações rasgados vão sangrando vida.

Vem, amor, inda que tarde,
Pra fingir que arde e queima essa fogueira;
Somos o resto do sonho,
O resto da mentira desta quarta-feira.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Folha em branco (Pré-texto)

Tela: Study of Romans Parisiens, de Van Gogh)


Folha em branco (Pré-texto)


Vejo a folha em branco como a tela

que o pintor rascunha, e anela

colorir os tons que a luz revela

copiando a obra que Deus fez.

O que olhos d´alma inda contemplam

pulsa feito estrela no infinito,

cala da palavra o próprio grito,

descortina a paz sem entrelinhas.

Mal sabe a alvura do papel

que em breve conterá a chama

e a singeleza de um momento

gravado, sem dor, a mel e fogo,

no fundo do sonho do poeta,

mescla de amor, silêncio e céu.


(do livro Tharsei - Tem bom ânimo)



segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Algumas frases soltas



Algumas frases soltas

Nossos versos não são mudos,
choram a poesia
na leveza do chicote.

Quando a saudade e a esperança se misturam,
o amor fala mais alto...

Saber tratar com cuidado o amor que se sente
é fazer poesia sem palavras...

Quanto mais eu tento esquecer a saudade,
mais ela me faz esquecer de tentar...

Dou um passo no escuro e não vejo nada,
Dou um beijo no escuro e não vejo mais nada...

Quem brinca de esconde-esconde com o sonho
vai ser pego em flagrante no cantinho da verdade.

Quem semeia sonhos colhe liberdade. Será?...

(do livro de crônicas Penso, logo escrevo)


Pingo de sol


Pingo de sol

Já bebi pingo de chuva,
Tem gosto de água do mar.
Água fria vem da nuvem,
molha a gente e molha a flor.
Parece que a nuvem chora,
mas por que fica tão triste?
Sem chuva a planta não nasce,
sem chuva ela não existe...
Mas eu vou pedir pra nuvem
esperar só um pouquinho
até o sol aparecer,
e, iluminando tudo,
derramar pingos de sol
pra chuva ter alegria.
Quem sabe assim ela cai
feito chuva colorida...
Vem cair, pingo de sol,
chove chuva, chove vida...

(do livro Coração Não É Brinquedo - poesia infantil)

Imagem: Dia de chuva - foto de Cleiton Seehaber


sábado, 7 de fevereiro de 2009

Ver além


Tela: View at the Sea of Scweningen, de Van Gogh

Ver além

Se eu for só atentar ao que eu sou,
De que me valerá a minha vida?
O que eu posso é muito pouco, eu sei,
E o que eu sei jamais será bastante.

De que me adiantará ser mais que sou,
Se tudo que eu for não será nada?
De que me servirá ter mais poder,
Se tudo que eu puder não tem sentido?

Conhecimento eu posso procurar,
Me esforçar e achar sabedoria,
Mas de que vale tudo conhecer,
Se isso apenas me conduz ao vento?

Sabedoria, posses, ser alguém,
São coisas que se buscam neste mundo,
Mas não é sem razão, e é profundo,
Que elas em si mesmas nada são.

O Deus que tudo fez criou a vida
Para que o sábio se renda aos Seus planos,
Para que o rico encontre vãos tesouros,
E os poderosos mirem seus enganos.

Somente Deus concede entendimento,
E a Deus pertence toda a riqueza,
Em Deus reside a glória e a nobreza,
E tudo isto o homem busca em vão.

Ó homem, volta os olhos para a vida
Que o Senhor dos céus, Deus soberano,
Tão amorosamente descortina
Diante dos incrédulos vencidos.

Ó homem, reconhece ser perdido,
E reconhece em tudo que alcançaste
Os frutos de um árduo trabalho
Que no entanto não vêm do bom Deus.

Se os teus olhos, sim, humildemente,
Oferecerem a esta esperança
A chance de então se fazer bonança
Nos corações que tudo rejeitaram,
O rico beberá da fonte eterna,
O sábio entenderá todo o caminho,
O poderoso dará glórias a Deus
E nenhum deles andará sozinho.

(do livro Tharsei - Tem bom ânimo, poesias evangélicas)





quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Convite ao sonho


Tela: Almond Blossom, de Van Gogh

Convite ao sonho - Acróstico

Como quem busca a própria fantasia,
Ofereci ao tempo um desafio:
Não deixes de assim me aceitar,
Vem e revela-te, a cada dia,
Iluminando o salão com sonhos,
Trazendo música ao sabor dos passos,
Eternizando cada melodia.

Ah, se eu pudesse assim adormecer,
Ouvindo o som da valsa dos segredos...


Se foi a ti, ó tempo, a quem fiz
O desafio que não vai ter fim,
Não me desprezes, não me abandones,
Hoje é o dia de buscar as flores,
Ontem foi tempo de verter amores...

Serenata

Tela: Champ de coquelicots, de Monet



Serenata

São tantas rosas revelando amores,
são tantas cores expressando a vida,
que se das flores o jardim soubesse
o tom exato da voz do seu canto,
seria muito, muito mais o amante
de se fazer tão doce, que o recanto
das notas suaves da vã melodia
se transformaria em linda serenata,
e, no encanto das canções dos tempos,
se mudaria, em um só segundo,
em cena viva a tela que passou
como se cada cor não se importasse...
E então renasce de repente a dança,
desenfreada na rosa dos ventos,
enquanto o vento das rosas sussurra
o seu convite para, sem temores,
provar o gosto terno dos cantores
ao exultarem, felizes, as manhãs,
tardes e noites, madrugadas tantas,
que a solidão depressa foi embora.
São tantas cores revelando a vida,
São tantas rosas expressando amores...

Amor Tecer


Tela: Weaver, de Van Gogh


AMOR TECER

Tecer o amor com fios de segredo,
qual tecelão que sonha e devaneia,
é conhecer o som da dor do medo
de a morte ser voraz como uma teia.
Amor tecer sem conhecer a vida,
cedo escondida, até o amor te ser
mais que certeza, é se perder o tempo
em que depressa acontece o amor,
E tece o tempo, o sonho, a vida, tudo,
amor tecendo, ao longo do caminho,
a morte sendo o sentimento mudo
te sendo o amor quem te fez tão sozinho.

(do livro Além do Vento - Versos e Valsas)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

E quem sou eu para fazer poesia?


Imagem: Nuvens - foto de Marcelo Donato



E quem sou eu para fazer poesia?

E quem sou eu para fazer poesia?
Conheço um campo, perto desta estrada.
À sua porta encontro a grande Rocha,
e logo vejo o pasto verdejante.
Eu vejo a Fonte, e o alto da colina
indica cada degrau do caminho,
até que lá, do alto, vejo nuvens,
escuto o céu, silêncio reverente.

Cruzei depressa jardins e recantos
e agora só contemplo o tempo, inerte,
que me conduz a vislumbrar mais cedo
o que o Mestre já anunciou.
O Autor da Vida me fez testemunha
de tanto amor, de tantas maravilhas,
que eu de mim me esqueço, tão sereno,
tão longe estão o mundo e suas ilhas.

Ele é Perfeito, e enche de alegria
o coração que aceita acompanhar
os Seus caminhos plenos de poesia,
e prova e vê, conhece e sente, e sonha.
Eu não escrevo, eu derramo versos
No rio terno das canções do dia.
É a poesia quem me fez poeta.
E quem sou eu para fazer poesia?


(do livro Além do Vento - Versos e Valsas)